O
ready made nomeia a principal estratégia de fazer artístico do
artista Marcel Duchamp. Essa estratégia refere-se ao uso de objetos
industrializados no âmbito da arte, desprezando noções comuns à arte histórica
como estilo ou manufatura do objeto de arte, e referindo sua produção
primariamente à ideia.Considera-se que a característica essencial do Dadaísmo é
a atitude anti-arte.
De fato, é a partir da década de 1960, com os chamados neodadaistas (como
Rauschemberg) e os artistas conceituais (como
Joseph
Kosuth) que Duchamp e sua obra seriam resgatados do limite do movimento
dada para tornar-se uma influência sobre toda a arte contemporânea, rivalizando
assim com
Picasso
no papel de maior artista do século XX.
O
ready-made é uma manifestação ainda mais radical da intenção de
Marcel
Duchamp de romper com a artesania da operação artística, uma vez que se
trata de apropriar-se de algo que já está feito: escolhe produtos industriais,
realizados com finalidade prática e não artística (urinol de louça, pá, roda de
bicicleta), e os eleva à categoria de obra de arte.
O ready-made caracteriza-se por uma operação de sentido que faz retornar o
literário ao problema da arte, contrariando a ênfase modernista na forma do
objeto artístico. O conceito de alegoria retorna na forma de uma operação que a
materializa concretamente. E ao adotar tal operação de sentido, Duchamp termina
por implicar mais que a obra de arte; é necessário tratar de toda a constelação
estética que envolve a obra e da conjuntura de sentido que a produz, mas também
a que a sustenta e sanciona.
É o caso de "Fonte", de 1917. A operação que o caracteriza é o
deslocamento de uma situação não artística para o contexto de arte. Tal
operação é marcada por sua apresentação como escultura e assinatura. À inversão
física do objeto corresponde a inversão de seu sentido, que se espelha no corpo
do espectador. Do mesmo modo, "Porta-garrafas" (1914, readymade) e
"Roda de bicicleta" (1913, readymade assistido) tiram partido de um
deslocamento e manipulação do objeto para tornar o sentido de sua aparição
crítico.
Ao longo de seu trabalho, Duchamp termina por qualificar a produção de ready
mades. A expressão refere-se primariamente aos objetos que não sofreram
transformação formal. Na qualidade de objetos, assim, de algum modo
transformados, temos os Ready mades retificados, corrigidos e recíprocos,
segundo o modo pelo qual sua forma sofre interferência por parte do artista.
Como em outros casos, está implícito o típico propósito dadaísta de chocar o
espectador (o artista, o crítico, o amador de arte), choque que caracteriza a
atitude das vanguardas (que necessitam desse choque para reformular o conceito
de arte) e persiste frequentemente na arte contemporânea. Mas o ready-made
também evidencia sua constituição em uma neutralidade estética, a partir da
qual a operação de sentido é proposta : o ready made inicia numa
"indiferença visual" : "...a ideia sempre vinha primeiro, e não
o exemplo visual", o que é, "...uma forma de recusar a possibilidade
de definir a arte." (em Entrevista com Pierre Cabanne)
Uma arte calcada no conceito, que se desenvolve a partir do ‘'encontro'’
(rendez-vous), ou seja, do achado fortuito, da
blague que dota o objeto
de sentido de modo desinteressado, e que, assim, fará com que a obra exista
para qualquer sujeito do mesmo modo.
Exemplos de Marcel de Duchamp: